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Discutindo a crise da saúde mental com CEOs

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Em um cenário ainda tão fragilizado, qual o papel das lideranças na gestão da saúde mental dos profissionais da empresa?

A saúde mental já era um ponto sensível para o Brasil em 2019, quando o país já figurava entre os primeiros da lista de mais ansiosos do mundo. Com a chegada da pandemia e todo o período de isolamento, incertezas e mudanças, números ainda mais alarmantes surgiram: 70% dos trabalhadores brasileiros declararam piora no estado de saúde mental, embora apenas 16% tenham buscado ajuda profissional (IBPAD, 2021); entre os líderes, 63% declararam problemas com ansiedade e 47% relataram estado de estresse (Robert Half e The School of Life, 2021).

Na linha de frente do combate à pandemia e expostos diariamente aos riscos e às consequências da COVID-19, a área da saúde foi particularmente atingida. Em um cenário ainda tão fragilizado, qual o papel das lideranças na gestão da saúde mental dos profissionais da empresa? Com a participação de Lidia Abdalla, CEO do grupo Sabin, Helton Freitas, CEO da  Unimed Seguros, e Renato Vieira, Diretor Executivo Médico e Desenvolvimento Técnico da Beneficência Portuguesa de SP, um painel voltado à saúde mental reuniu convidados durante o Saúde Business Fórum, principal evento de relacionamento entre pares do setor de saúde no Brasil. 

Desafios profundos e os impactos na sociedade

Renato Vieira abriu a mesa de discussão reforçando que essa é uma questão relevante e sempre atual. “A doença mental é uma das poucas doenças que é regida por lei – a questão portanto transita não só no território da saúde, mas também no da política e da legislação, tornando o assunto ainda mais complexo”, comentou. “Podemos sim falar sobre os obstáculos que a COVID trouxe, mas os desafios da saúde mental são muito mais profundos e já existiam antes da pandemia. Quando você considera não só mortalidade, mas também anos de vida em desabilidade, as doenças de saúde mental representam até 22% de morbidade das doenças conhecidas. Em torno de 30% da população vai ter ao longo da vida pelo menos um episódio depressivo, por exemplo”, contextualizou.

Para Lidia Abdalla, é importante destacar que esse é um momento muito propício para fomentar conversas sobre o tema. “Questões como as que estão em debate hoje não seriam aceitas 5 anos atrás, pois não havia coragem de assumir problemas com saúde mental e nem aceitação da sociedade sobre isso”, relembrou. “Esse é um tema urgente para tratarmos nas nossas instituições, para que consigamos cuidar dos nossos profissionais da melhor forma, até mesmo para garantir a fluidez dos sistemas”, defendeu, reforçando o papel central desempenhado pelas lideranças.

C-Levels e a saúde mental no longo prazo

Para a CEO do grupo Sabin, é importante compreender o profissional além do trabalho, olhando para as pessoas de forma holística. “As lideranças precisam entender que cuidar das pessoas não é um trabalho apenas do RH, mas sim uma ação estratégica e essencial para a sustentabilidade do negócio”, disse. “Todo líder é um líder de pessoas e por isso é responsável por elas”, defendeu Lídia.

O papel dos C-levels e líderes da saúde na luta pela saúde mental, porém, também pode gerar ainda mais sobrecarga a esses profissionais. Helton Freitas trouxe para o debate o quanto é solitário o papel do líder, principalmente no topo das instituições. “O conteúdo cognitivo do trabalho é muito pesado e frequentemente os c-levels não têm pares com os quais dividir essa carga”, comentou. “Frequentemente esses executivos enfrentam quadros de ansiedade, de estresse e de depressão, e isso é uma questão especialmente sensível em momentos de incerteza. A pandemia ampliou muito a imprevisibilidade com o qual lidamos diariamente, levando a um nível ainda maior de estresse pelos resultados da companhia e pela responsabilidade com os demais profissionais do time”, apontou.

Vieira alertou também para a questão dos efeitos de longo prazo. “Evoluções de crises agudas têm impactos observáveis ao longo de 5, 10 ou 15 anos – ou seja, pode ser que não estejamos vendo hoje o auge dessa crise e que, na verdade, ainda estejamos no início dela”, comentou. “Será preciso acompanhar e estudar os impactos nesse período pós-pandêmico. Sabemos que existiu um sofrimento agudo, mas não sabemos as consequências que virão disso”, concluiu.

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