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Hospitalistas e o tempo certo

Article-Hospitalistas e o tempo certo

Crédito: Freepik medico hospital.jpg
Uma reflexão sobre o atendimento adequado aos pacientes hospitalizados

Paciente hospitalizado evoluindo mal. Plantonista emprega soluções Band-Aid, enquanto alerta o "médico responsável", daqueles que ocupa uma hora de seus conturbados dias para visitas hospitalares, daqueles que por vezes pede para “alguém pelo hospital” prescrever, pois, se ainda tiver que passar lá, precisaria de um dia com mais de 24 horas:

- Não está bem, pensei "nisto e naquilo", mandou o plantonista.

- Não precisa, vejo melhor amanhã. Nada me impressionou hoje pela manhã.

- As coisas mudam, realmente não achei o cliente bem.

- Pode deixar comigo agora.

No outro dia, o "médico responsável", da "coalizão externa dos hospitais”, não conseguiu tempo para passar pela manhã. Já havia mais gente preocupada. O modelo vigente, entretanto, de conhecimento tácito, orienta que as questões maiores quem define é o "dono do paciente", não raramente o verdadeiro cliente. À tardinha, quando passou, não encontrou o paciente nada bem: "Nossa, como piorou!", disse, realmente surpreso.

Em menos de 48 horas depois, o paciente faleceu.

Este relato, semelhante a tantas histórias reais, muito bem serviria para tentar justificar hospitalistas nas organizações brasileiras, não? Pois saibam que este paciente estava em uma UTI. No Brasil, muitas vezes ainda precisamos discutir e aprimorar modelos assistenciais em unidades de terapia intensiva, refletir sobre como deve ocorrer a divisão de autoridade e responsabilidade no cuidado de pacientes criticamente enfermos. Tudo isto antes de discutir Medicina Hospitalista (MH).

Quando eu literalmente trouxe para o Brasil, mais de uma década atrás, o conceito ‘hospitalista’ e a expressão Medicina Hospitalar-  traduzida do inglês Hospital Medicine, estavam a frente de nosso tempo. Hoje tenho maturidade até para aceitar que, em lugares sem UTIs otimizadas, sequer vale insistir muito em uma "nova enfermaria", de “alta performance”. Antes precisa de UTIs com intensivistas e horizontalidade (ou rotina). E que intensivistas, titulados a partir do que verdadeiramente capacita - treinamento em serviço ou residência médica,  sejam protagonistas na parte que lhes cabe, dentro da compreensão moderna de cuidados críticos/intensivos e de hospitais minimamente contemporâneos.

Hoje sei também que arremedos de MH, com um médico diferente no hospital a cada dia, podem ser piores do que o modelo tradicional. Então, no ritmo do samba, que é verão por aqui, fica a mensagem, com votos de um feliz 2023:

 

O tempo perguntou pro tempo

Quanto tempo o tempo tem

E o tempo respondeu pro tempo

Que o seu próprio tempo

Todo mundo tem

Tudo tem seu tempo certo

(Fundo de Quintal)

 

Leituras complementares:

Crítica ao cuidado baseado em plantões

O hospitalista como “dono” do paciente no hospital