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Mais vacinas contra o câncer estão chegando

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04/02 – Dia Mundial de Combate ao Câncer

“Em dezembro de 2019, o Dr. Vinod Balachandran e sua equipe haviam acabado de recrutar os primeiros pacientes para um emocionante ensaio clínico que estava acontecendo em Nova York: teste de um novo tipo de vacina contra o câncer de pâncreas. A vacina, feita a partir de uma molécula chamada ácido ribonucleico mensageiro (mRNA), foi projetada para habilitar o sistema imunológico dos pacientes a atacar células cancerígenas. Todavia, antes que o teste pudesse entrar em pleno andamento, ocorreu um desastre: um novo vírus havia sido descoberto na China, espalhando-se silenciosamente pelo mundo. Três meses depois, Nova York estava em lockdown”. O fato foi revelado pela revista “ScienceFocus” e mostra que a tecnologia mRNA já estava na “alça de mira” dos pesquisadores vacinais mesmo antes da Covid-19.

Quase 20% dos cânceres em todo o mundo são causados ​​por vírus. Esses patógenos não causam câncer até muito tempo depois de infectarem uma pessoa. Mas eles “ensinam as células que assumem como escapar do processo biológico natural de morte celular”. Com isso, o vírus coloca as células alteradas em direção a outras mudanças genéticas, que podem causar câncer nos anos adiante. As vacinas existem tanto para prevenir diferentes tipos de câncer quanto para tratá-los. Desenvolve-las é um processo difícil, mas a ideia de usar material genético para produzir uma resposta imune abriu um universo de potenciais vacinas. Os cientistas trabalham na tecnologia mRNA (que está por trás das vacinas contra a Covid-19, da Pfizer/BioNTech e Moderna) há mais de três décadas. Após seu sucesso na pandemia, pesquisadores e empresas farmacêuticas avançam em testes vacinais baseados em genética para outras doenças, entre elas o câncer. Deborah Fuller, professora de microbiologia na School of Medicine University of Washington e especialista em vacinas de mRNA e DNA, explica que essa tecnologia pode induzir uma resposta de anticorpos para combater os vírus, mas também pode lançar outro tipo de resposta imune usando as células T do nosso corpo, podendo “ser utilizada não apenas para doenças infecciosas, mas também para imunoterapia de doenças crônicas ou mesmo contra o câncer”.

O câncer tem como paradigma o desconhecido, o surpreendente, e as pesquisas para combatê-lo também navegam ao sabor das surpresas, às vezes boas, às vezes más. Albert Szent-Gyorgyi, prêmio Nobel de Medicina em 1937, explicou certa vez essa constante jornada ao desconhecido: “Se Louis Pasteur saísse de seu túmulo porque ouviu dizer que a cura para o câncer ainda não havia sido encontrada, as autoridades científicas lhe diriam: “Claro que lhe daremos assistência. Agora escreva exatamente o que você fará durante os três anos de sua concessão”. Pasteur teria dito: “Muito obrigado, mas prefiro voltar ao túmulo”. Por quê? Porque pesquisar significa desafiar o desconhecido, enfrentar o mistério da ciência, que Pasteur conhece bem. Se você sabe o que vai fazer na ciência, então você é um estúpido! Isso é como dizer a Michelangelo ou Renoir que ele deve dizer com antecedência quantos vermelhos e quantos azuis ele vai usar e exatamente como vai juntar as cores”.

Se alguns vírus instruem células cancerígenas, o que sabemos sobre eles hoje? Alguns patógenos específicos são únicos, tanto por seus efeitos sobre os pacientes quanto pelas possíveis maneiras de tratar ou prevenir. Segundo a American Society for Microbiology (EUA) existem atualmente sete vírus conhecidos que podem causar câncer, tecnicamente chamados de "vírus oncogênicos": (1) o vírus T-linfotrópico humanopstein, que pode causar a Leucemia de Células T Adultas; (2) o Human papilomavírus, que pode gerar o Carcinoma do Colo do Útero; (3) o vírus da Hepatite B, causador da Carcinoma Hepatocelular (HPV); (4) o vírus da Hapatite C, também causador do HPV; (5) o vírus Epstein-Barr, do Linfoma de Hodgkin; (6) o vírus do Herpes (associado ao sarcoma de Kaposi), que pode causar o Sarcoma de Kaposi; e (7) o vírus Polioma de Células de Merkel, que pode causar o Carcinoma de células de Merkel. Alguns vírus são chamados de “persistentes”, porque uma vez que uma pessoa é infectada, ele permanece em seu corpo por toda a vida. Um exemplo é o vírus do Herpes, que causa varicela em crianças e pode reaparecer mais tarde na vida como herpes zoster.

A primeira vacina viral contra infecção pelo HPV (e cânceres associados) foi aprovada para uso nos EUA em 2006, provando ser altamente eficaz. A vacina para o vírus da Hepatite B, introduzida em 1986, foi também bem-sucedida durante um longo tempo, sendo reconhecida como a ‘primeira vacina anticâncer’ (mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo a receberam). Várias outras vacinas contra cânceres estão em fase de teste. Em janeiro de 2022, por exemplo, pesquisadores da Technical University of Denmark (DTU) anunciaram estar trabalhando no desenvolvimento de um novo tipo de vacina oncológica, que “ajuda o sistema imunológico a reconhecer os carboidratos que são encontrados apenas na superfície das células cancerígenas. Por sua vez, esses carboidratos são encontrados na superfície de várias células cancerígenas diferentes, significando que a vacina poderia funcionar potencialmente contra vários tipos de câncer”. Da mesma forma, também em janeiro de 2022, Cuba registrou a primeira vacina terapêutica contra o câncer de pulmão, segundo comunicado das autoridades científicas do país. “Foram mais de 15 anos de pesquisas, cujo objetivo é transformar o câncer de pulmão avançado em uma doença crônica controlável”, explicou Gisela González, chefe do projeto da vacina, denominad Cimavax-EFG. A vacina está baseada em uma proteína que todos têm: o fator de crescimento epidérmico.

Na outra ponta do mundo, o Japão concedeu em fevereiro de 2022 patente à Anixa Biosciences por sua vacina contra câncer de ovário (um dos canceres ginecológicos mais agressivos). A tecnologia foi inventada pelos pesquisadores Vincent K. Tuohy, Suparna Mazumder e Justin M. Johnson, e a vacina tem como alvo o domínio extracelular do receptor do hormônio anti-Mülleriano 2 (AMHR2-ED), que é expresso nos ovários, mas desaparece quando a mulher atinge e avança na menopausa. A maioria dos diagnósticos de câncer de ovário ocorre após a menopausa, e o AMHR2-ED está envolvido na maioria dos casos.

Também em 2022, o Cancer Research UK anunciou o primeiro paciente medicado em um ensaio clínico testando um novo imunoterapêutico para o tipo mais comum de câncer de pulmão. O estudo MAGE espera envolver cerca de 86 pessoas que foram recentemente diagnosticadas com câncer de pulmão de “células não pequenas (NSCLC)”. Existem vários tipos desse câncer, que é responsável por cerca de 85% dos cânceres de pulmão no Reino Unido. O novo tratamento é composto por três vacinas, uma prime e duas de reforço, sendo que a dose inicial dessa imunoterapia contém um adenovírus de chimpanzé. Há uma necessidade urgente de encontrar melhores tratamentos para pacientes com NSCLC. A vacina imunoterapêutica VTP-600 é uma tecnologia que visa combater as células cancerígenas. O teste está planejado para ser aberto em dez hospitais especializados em todo o Reino Unido, garantindo que o maior número possível de pacientes tenha oportunidade de participar”, explicou a pesquisadora-chefe do ensaio clínico, Fiona Blackhall

O fato de existirem boas perspectivas para vacinas contra o câncer, não deve ser superestimado: os cânceres evoluem para doenças muito diferentes, exigindo uma extensa rede panóplia de tratamentos, sendo que até agora os cientistas classificaram mais de 200 tipos de câncer e encontraram uma infinidade de mutações genéticas subjacentes a eles. Dos cerca de 20 mil genes do genoma humano, entre 500 e 1.000 foram identificados como contribuindo, quando mutados, para uma célula se tornar cancerosa. Mas o que torna o câncer tão perigoso, no entanto, é o conjunto de sinais que o induzem a se mover (além de seu local primário) para o sangue, sistema linfático ou outros tecidos. “Normalmente, os sinais químicos orientam uma célula cancerosa para se mover em uma direção específica, mas em muitos casos não sabemos o que são”, diz Robert Insall, professor de biologia celular do Cancer Research UK Beatson Institute (Glasgow). “Então, se você está olhando porque o câncer ainda não foi curado, é porque cada câncer tem um conjunto diferente de sinais aos quais está respondendo”, completa ele.

Nos EUA, a FDA (Food and Drug Administration) já aprovou algumas vacinas para prevenir o câncer: (1) vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV), que, segundo mostra a Sociedade Americana do Câncer, 8 em cada 10 pessoas entrarão em contato com ele; (2) vacina contra a hepatite B (HBV), que ataca o fígado e pode levar ao câncer de fígado; (3) BCG (Bacillus Calmette-Guerin) que pode atuar contra o câncer de bexiga; (4) a Sipuleucel-T, vacina que pode tratar câncer de próstata; (5) e Talimogene laherparepvec, vacina que apoia o tratamento do melanoma. Mas o imunologista Luke O'Neill, professor de bioquímica e imunologia do Trinity College Dublin (Escócia), diz que nos últimos dois anos tivemos grandes descobertas sobre o sistema imunológico e tratamentos médicos que podem desencadear uma série de novos produtos, só comparável a chegada do homem a Lua. “As chamadas vacinas genéticas estão usando o gene em oposição à proteína ou ao vírus inteiro. Neste momento, estão em andamento vários testes de vacinas usando mRNA, como para HIV, malária e vários tipos de câncer. Aliás, o sonho sempre foi vacinar contra o câncer, para que o próprio sistema imunológico eliminasse o tumor. Houve algumas evidências de que poderiam funcionar no passado, mas agora, usando a tecnologia de mRNA, esse sonho está se tornando cada vez mais realidade”. Portanto, não desanime. Neste “Dia Mundial de Combate ao Câncer” não esmoreça e lembre-se do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminante no hay camino, se hace camino al andar..."

Guilherme S. Hummel

Scientific Coordinator Hospitalar Hub

Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)