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Outras especialidades, como Psiquiatria, devem adotar o modelo de Medicina Hospitalar?

Article-Outras especialidades, como Psiquiatria, devem adotar o modelo de Medicina Hospitalar?

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Confira o artigo de Guilherme Brauner Barcellos.

Não é uma resposta de sim ou não: como regra geral, há muitas razões para o hospitalista ser o “generalista de Wachter”, o que, nos EUA, faz com que os hospitalistas que cuidam de adultos sejam majoritariamente internistas de formação (depois geriatras). Já os que cuidam de crianças, pediatras gerais. Aqui um resumo das justificativas disto por quem cunhou o termo hospitalista:

E países vários compartilham estas demandas, pelo fenômeno global de envelhecimento da população de adultos hospitalizados, cada vez mais multimórbidos e complexos. Veja aqui reflexões sobre isto considerando a realidade italiana, originalmente com especialistas focais na posição de hospitalistas, havendo a atual defesa por muitos da migração para o “modelo generalista”.

Em paralelo a esta importante discussão, reconhece-se que diversas especialidades médicas podem adotar elementos do modelo hospitalista, se é que não representar o pacote integral, em situações específicas. Não na dimensão do que já se percebe no Brasil com o crescimento das consultorias em MH, onde aceitam chamar qualquer médico de hospitalista para ampliação de portfolio de serviços. Mas há cenários e principalmente interfaces a serem explorados.

Discuti isto ainda em 2008, com o exemplo da Psiquiatria:

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Há quase 15 anos, portanto, defendi tanto a possibilidade de psiquiatras serem os próprios hospitalistas (no sentido da responsabilidade primária pelo gerenciamento do caso) quanto consultores próximos de pacientes cuja coordenação geral no hospital seria feita por internistas hospitalares (leia-se co-manejo, divisão clara e responsável de funções, sem abrir mão de nenhum dos dois profissionais) – a depender do perfil demográfico da população a ser atendida.

Aquela palestra foi interessante porque eu vivia, como um part-time hospitalist que era na época, efeitos da Reforma Psiquiátrica como foi conduzida no Brasil. Recebíamos pacientes predominantemente psiquiátricos em enfermaria geral, sem uma adequada retaguarda de médicos psiquiátricos, sem equipe treinada em cuidado psiquiátrico, sem que eu, como clínico geral, tivesse condições técnicas de oferecer o plano terapêutico que aquelas pessoas necessitavam. Isto não pode ser assim!

A Reforma Psiquiátrica foi um processo necessário ocorrido em todo o mundo ocidental, a partir da década de 1950, que buscou a reorientação do modelo de assistência à saúde dos portadores de transtornos psiquiátricos, então centrado na internação hospitalar de longa duração e afastamento total do convívio social e familiar. A necessária reforma brasileira tomou forma no final da década de 70, mas com direcionamento excessivamente dogmático, o que trouxe consequências negativas não intencionais:

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Hoje, embora muitos problemas da assistência psiquiátrica persistam, já vejo inúmeros colegas como psiquiátricas exclusivamente de consultório, tanto quanto outros exclusivamente das internações hospitalares. Se o sistema foi organizando-se na “lógica hospitalista”, não significa que não possui até mesmo novos gargalos e desafios: muitos dos profissionais que estão a fazer as hospitalizações são jovens psiquiatras inexperientes, enquanto não se posicionam melhor no sistema ambulatorial. Muitas vezes não adotam sequer posicionamento part-time na instituição, atuando em múltiplos hospitais e pronto-atendimentos. A adequada gestão no Brasil do cuidado hospitalar envolvendo saúde mental deve se debruçar muito ainda nas velhas e nas novas questões, fortalecendo a parceria entre psiquiatras e internistas quanto mais a população atendida for portadora de comorbidades clínicas.