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Saúde em 2030: os sistemas público e privado integrados pelo figital

Article-Saúde em 2030: os sistemas público e privado integrados pelo figital

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O caminho para essa integração ainda é longo, mas inevitável. Em debate no HIMSS@Hospitalar, especialistas defendem a formação de cluster para trazer agilidade ao processo

O futuro da saúde é figital, não há dúvida sobre isso no setor. Mas realmente figital, com uma estratégia, com modelo de funcionamento, e uma integração sem barreiras, sobretudo quando se trata dos sistemas públicos de saúde. No entanto, mesmo havendo muita vontade do governo de fazer virar a saúde digital conectada no País inteiro, os desafios são tão gigantes quanto ele.

A evolução dessa realidade passa por integração e conectividade, definição de padrões de interoperabilidade, pensar o design de saúde, com o fortalecimento de clusters, e desenvolver uma cultura de medir resultados. Pelo menos para os participantes do debate Figital: perfil da Cadeia de Saúde em 2030. Por que os Sistemas Públicos de Saúde (SUS) serão intrinsecamente dependentes de conectividade, realizado durante o HIMSS@Hospitalar, em maio.

Moderado pelo curador de conteúdo do evento, e especialista em saúde digital, Guilherme Hummel, o painel contou com a participação de Rita Ragazzi, sócia-líder do segmento de Saúde e Ciências da Vida da KPMG; Jacson Barros, gerente de desenvolvimento de negócios em Saúde da Amazon Web Services; e Rogério Carballo, gerente médico de Inovação e Linhas de Cuidado, do Hospital Infantil Sabará.

Integração e confiança

Que o futuro da saúde é figital é consenso, sobretudo pelas possibilidades de acesso com a expansão dos serviços, e fim das limitações físicas já experimentadas na telemedicina, no entanto isso depende de integração dos serviços e conectividade. “Acredito que o figital é a melhor saída para tornar o sistema sustentável, e que seja a solução para equilibrar público e privado, e utilizando o que não está utilizado no privado, e pra isso precisa seguir uma estratégia que e como a gente faz tornar possível os pilares para a construção deste caminho. Tem que ser sinérgico”, apontou Carballo.

Para tornar isso viável, e mais concreto, a executiva da KPMG reforçou a possibilidade de tal integração acontecer por etapas. “Eu penso que não precisa ser tudo. Como refaz as estruturas de saúde no figital, e aí pensar em conectividade para que consiga um nível de troca de informações. Iria além de público e privada, falaria entre as instituições de saúde. Você tem que ter um hub que tem toda informação do paciente e core. E vai dando acesso conforme as estruturas podem absorver e utilizar”, defendeu Rita.

Encontrar um ponto em comum entre todos os envolvidos é onde moram os desafios. O alinhamento entre esferas de governo, diferentes estados, universidades e instituições de saúde depende do estabelecimento de um objetivo comum e trabalhar junto nessa frente.

Aprendi com uma antropóloga: por que a Islândia tem mais patentes que o Brasil? O que motiva? Confiança. Infelizmente o Brasil não tem confiança entre os pares. É preciso alinhar a expectativa que em 10 anos ele chega lá. O Brasil chega lá de algum jeito, mas o jogo tem que ser combinado. Foi assim com o RNDS. Tudo o tem que ser focado no paciente, isso melhora acesso e qualidade. Mas é necessário que o setor se comunique”, reforçou Barros, que também já atuou como diretor do DataSus no passado.

Clusters em saúde no figital 

Dentre as trilhas possíveis para a evolução da integração, Hummel levantou a formação de clusters regionais, ou de perfis demográficos, para assim se criar sandboxes (ambientes de testes) como uma alternativa para acelerar esse processo.

“Eu acho perfeito. Diferente do que a gente tinha há duas décadas nos sistemas, acho que um pouco de diversidade de tecnologias e métodos é saudável e traz proteções ao sistema de saúde. Precisa ter uma atuação do Estado para padrão de troca de informação, padrões mínimos de segurança, LGPD, de troca e acesso”, pontuou a sócia-líder da KPMG.

Executivo do Hospital Infantil Sabará, Rogério Carballo acredita que a clusterização traria mais agilidade ao processo. “Se for esperar o planner master, vai demorar eternamente para acontecer e vai falhar. E é melhor que aconteça em forma mais ágil, falhando rápido e ajustando rápido, e atendendo às necessidades de cada cluster”.

O médico ainda ressaltou que o importante é repensar o modelo de atendimento. “A tecnologia não é fator limitante. O nosso problema é de design de saúde”, disse. O Hospital Sabará é um modelo de cluster de pediatria, por meio da telemedicina. Atendendo todos os estados e provendo interconsultas com especialistas para hospitais em São Paulo, a instituição criou uma metodologia que está alinhada com o modelo de capilarização do que faz sentido ser atendido no hospital.  

Modelos assistenciais e engajamento do paciente

O funcionamento de um modelo de integrado de saúde passa também pela reestruturação do modelo de saúde, incluindo a telemedicina na jornada do paciente, não deixando que ela seja somente um instrumento isolado. Hummel salientou a Grã Bretanha e a França como exemplos em que a telemedicina passou a integrar a hierarquia do atendimento na atenção primária em saúde, sendo o primeiro ponto de atendimento do paciente.

Aqui ainda parece distante esse modelo. “Somos um hospital que faz telemedicina, e só tem quatro operadoras que autorizam. Fora que ainda temos 9 mil consultas mês no PS, o doente não quer ser atendido remotamente.  Mas se fizer isso, eu te coloco com o médico certo, na hora certa. É a inclusão da telemedicina”, pontuou Carballo.

Para repensar o modelo é fundamental o monitoramento dos resultados e a criação de indicadores consistentes. “Hoje se usa a telemedicina fortemente no SUS para atendimentos com especialistas em algumas regiões, e a partir de parcerias com universidades. Mas o que a gente precisa aprender é medir o resultado antes de pensar um modelo definitivo. Como monitoro a qualidade da telemedicina? Diminuiu a hospitalização? Melhorou a qualidade? A gente precisa ter alguns indicadores para isso”, reforçou Jacson Barros.

Outro ponto debatido é se o paciente precisa mesmo ter essa escolha, se as coisas só não poderiam ser determinadas. Entre os participantes a conclusão é de que ele precisa ser empoderado na decisão com indicadores, dados e informações. “Diante de uma gestão de saúde integrada, esse mutualismo, o deixar fazer o paciente fazer que quiser e a operadora paga a conta, talvez não caiba mais isso”, finalizou Rita.