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Saúde mental: o impacto para as operadoras no longo prazo

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Cresce o número de atendimentos de transtornos mentais na saúde privada e operadoras buscam formas de lidar com a nova realidade

O número de beneficiários de planos de saúde com depressão aumentou de 11,1% para 13,5% de 2020 para 2023, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) intitulado “Janeiro Branco na Saúde Suplementar – Panorama da saúde mental entre beneficiários de planos de saúde”, baseado em dados de três pesquisas feitas pelo Inquérito Telefônico para Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), nos anos de 2020, 2021 e 2023.

O estudo teve o objetivo de traçar um panorama da saúde mental entre os beneficiários de planos de saúde e trouxe dados que podem ilustrar uma realidade já conhecida de todos: a saúde mental precisa estar no centro das atenções. Um desses dados, por exemplo, aponta que os custos com procedimentos em psicoterapia passaram, entre 2018 e 2022, de R$ 181 milhões para R$ 269 milhões.

O número de eventos tendo como CID a ansiedade mais que dobrou de 2018 a 2022, passando de 794 para 2.100. Outro sinal de alerta: o aumento no número de procedimentos foi maior entre os beneficiários mais jovens, com idade entre 18 e 39 anos.

Como os transtornos mentais impactam as operadoras

Depressão e ansiedade são os transtornos mais comuns. “Embora não se tenham dados recentes da prevalência de ansiedade na saúde suplementar, o estudo do IESS apontou considerável aumento no número de eventos registrados nos últimos anos cuja causa foi a ansiedade generalizada. Por sua vez, a depressão, em 2023, estava presente em cerca de 7,6% dos homens e 18,5% das mulheres usuários dos planos de saúde”, explica José Cechin, superintendente executivo do IESS. 

Na Unimed Nacional, conta Luiz Paulo Tostes Coimbra, presidente da instituição, é nítido o aumento no número de atendimentos relacionados a quadros de ansiedade e depressão, além de uma alta demanda de pacientes com transtornos de estresse, relacionados ou não ao trabalho.

A Sami Saúde realizou um levantamento que apontou que, dos mais de 21 mil membros atendidos atualmente, 20% tiveram diagnóstico de pelo menos um distúrbio relacionado à saúde mental. “Isso significa um número aproximado de 4.200 pessoas com alguma queixa relacionada a essa área da saúde. A faixa etária com mais diagnósticos é de 29 a 33 anos, com prevalência entre as mulheres. Cerca de 14% dos casos estão ligados à ansiedade, 3% à depressão e, pelo menos 1%, a transtornos de estresse”, revela Vitor Asseituno, cofundador da Sami.

Impactos da saúde mental na saúde física são reais e aumentam custos. Como lidar com essa realidade

A correlação entre saúde mental e física é bem estabelecida, com evidências mostrando que problemas de saúde mental podem afetar significativamente a saúde física de uma pessoa, e vice-versa.

“Quando se observa o aumento de casos relacionados à saúde mental, podemos notar, por exemplo, uma relação com a evolução de queixas ligadas a sintomas físicos no trato gastrointestinal ou alterações cardíacas. Isso porque, em casos de ansiedade e depressão, é muito comum que o paciente tenha sinais como dores de estômago, diarreias crônicas, alterações de sono e apetite, batimentos cardíacos acelerados, entre outros”, explica Asseituno.

Ele comenta sobre a necessidade de as empresas contratantes de planos, beneficiários e operadoras entenderem que é preciso evitar esse cenário. Segundo ele, para que os pacientes não cheguem a esse ponto crítico, é preciso olhar para a medicina preventiva como o melhor caminho a ser seguido.

“Isso passa pelo conhecimento da saúde integral do paciente e do acompanhamento de um time coordenado que olhe para todas as áreas da vida de um indivíduo e faça os encaminhamentos necessários para que um transtorno não evolua”, comenta Asseituno.

Cechin concorda, dizendo que, para minimizar os impactos dos transtornos mentais na saúde física, as operadoras podem adotar uma abordagem integrada que inclua o incentivo a estilos de vida saudáveis e a implementação de programas de prevenção e educação.

Asseituno conta que a Sami Saúde oferece ao paciente suporte integral, personalizado e garantido por um Time de Saúde formado por médicos, enfermeiros e coordenadores de cuidado. Esse time acompanha e conduz os pacientes durante toda sua jornada com a Sami, conseguindo assim identificar a causa raiz de dores – muitas vezes sintomas de transtornos mentais -, e, por estar lado a lado com o paciente, ajuda a evitar desperdícios, como a realização de exames repetidos ou desnecessários.

“Além disso, o Time de Saúde conhece as particularidades de cada paciente, como histórico de saúde, rotina, fatores socioeconômicos e culturais - que têm enorme impacto na saúde mental. Com isso, conseguimos ser mais assertivos e mais ágeis no diagnóstico de problemas desencadeados por estresse, ansiedade, depressão, entre outras questões dessa natureza. Hoje, por exemplo, pelo menos 20% dos atendimentos do Time de Saúde são voltados à saúde mental.”

Esses detalhes têm feito a diferença. “A sinistralidade caixa da Sami (sinistro real) tem ficado estável em 72-73%, o que vemos como algo muito positivo, considerando o atual cenário da saúde no país, no qual, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a média de sinistralidade de outras operadoras ficou acima dos 93%.”

Para Cechin, cabe também às empresas contratantes fazerem a detecção precoce de colaboradores que apresentem sintomas iniciais do problema para evitar que estes se agravem. “A detecção e intervenção precoces em problemas de saúde mental, o suporte a grupos vulneráveis e a colaboração com organizações especializadas podem ser estratégias eficazes”, destaca ele.

Coimbra concorda que a melhor forma de atuar é trabalhando na prevenção. Nesse cenário, ele ressalta a importância de as empresas divulgarem aos seus colaboradores as ferramentas e programas disponíveis, sejam programas próprios de qualidade de vida ou os desenvolvidos em parceria com o plano de saúde.

“O Saúde em Foco é o nosso pilar destinado ao cuidado e prevenção. Ele engloba programas de saúde que trazem atendimento especializado para prevenção e promoção do bem-estar, com acompanhamento de profissionais preparados para entender as necessidades dos nossos beneficiários.”

Coimbra conta que, em 2023, a Unimed lançou, em parceria com o Dr. Online, o Consultório Online para atender empresas. É uma cabine de telemedicina que permite consultas virtuais com diversas especialidades e é estruturada para realizar exames como eletrocardiograma, medição de pressão arterial, ausculta pulmonar e cardíaca, avaliação oftalmológica, entre outros. Uma das metas é contribuir para a prevenção de doenças crônicas e redução do absenteísmo nas empresas.

Outro programa da Unimed que utiliza apenas vias digitais para atendimento é o IntegralMente, desenvolvido em parceria com a MentalMap. O programa proporcionou, somente em 2023, mais de 30 mil consultas com psicólogos ou psiquiatras aos beneficiários. “Entretanto, apesar da modalidade online ser uma solução para parte da demanda, não se pode excluir a necessidade de redes de atendimento e apoio presenciais”, destaca Coimbra.

A telemedicina é uma grande aliada da atenção primária à saúde por conseguir extrapolar fronteiras e permitir um acompanhamento mais rápido e eficiente para os pacientes. “Na Sami, essa triagem inicial, feita por um time de enfermeiros e médicos de família, consegue resolver até 85% das queixas, o que é positivo tanto para os pacientes quanto para o sistema de saúde”, analisa Asseituno.

Hoje, na Sami, 95% dos atendimentos são digitais. Asseituno explica que, nos casos de transtornos de saúde mental, esse atendimento remoto permite acompanhar de perto a evolução da condição para que sejam traçadas as estratégias mais adequadas para evitar problemas maiores. Hoje, são também centenas de consultas de saúde mental por mês via telemedicina.

Outro aspecto que Cechin julga relevante lembrar é a necessidade de a sociedade superar o estigma associado à doença, o que tende a atrasar a busca por atenção especializada e a agravar a situação

Impactos da saúde mental a longo prazo em diversos cenários

Para os beneficiários, o aumento das doenças psicológicas pode levar a uma saúde física deteriorada e qualidade de vida reduzida. Isso afeta não apenas a capacidade de realizar atividades diárias, mas também impacta as relações sociais e a independência.

“Já para as operadoras de planos de saúde e para as empresas contratantes, o crescimento de doenças psicológicas resulta em perda de desempenho e produtividade, custos de saúde mais elevados e uma demanda crescente por serviços, exigindo investimentos em recursos e infraestrutura”, opina Cechin.

Asseituno comenta que, se o sistema de saúde não mudar e não voltar seus esforços à missão de conscientizar a todos sobre a importância da medicina preventiva e da atenção primária à saúde, o cenário será cada vez mais voltado a tentar remediar problemas que já estão presentes na vida dos pacientes.

“Atuar apenas para tratar doenças é uma corrida sem fim na qual as operadoras de saúde correm contra o tempo, contra a inflação médica e contra fraudes na tentativa de garantir a saúde de seus pacientes. Prevenir o aparecimento dessas doenças é a melhor saída. Promover saúde e bem-estar deveria ser de fato a preocupação do setor de saúde no país e no mundo.”

Cechin pontua que, nos últimos anos, o campo da saúde mental testemunhou avanços significativos. A pesquisa em neurociência tem aprofundado a compreensão dos mecanismos cerebrais subjacentes aos transtornos mentais, incluindo melhor compreensão dos fatores de risco para seu desenvolvimento e melhores condutas terapêuticas.

“Assim, é possível observar o desenvolvimento de novos medicamentos, com menos efeitos colaterais; o uso de terapias baseadas em evidências, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, e a expansão da telemedicina, que melhorou o acesso ao tratamento”, finaliza.

Reportagem: Crisitina Balerini